Na sexta-feira, dia 12, uma das funcionárias da Junta de Freguesia de Canas de Senhorim foi impedida de entrar no local de trabalho. Os cerca de 50 canenses que se reuniram à porta da junta injuriaram a funcionária e a jornalista que foi, junto dos manifestantes, saber o porquê da concentração.
Texto Isabel Marques NogueiraJunto do edifício da junta concentravam-se as mulheres. Do outro lado da estrada, estava o lado masculino reunido. Era o cenário que o Jornal do Centro encontrou quando chegou. E à pergunta da jornalista: Porque é que estão aqui reunidos? A resposta foi: “Estamos aqui a cumprir um dever”. “Temos os nossos motivos para estar aqui”. Com as breves respostas vieram os insultos e palavras menos simpáticas acompanhadas de ameaças à jornalista que tentava perceber o porquê da concentração.A concentração surge depois de um comício de Luís Pinheiro, líder do Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim (MRCCS), na noite de quinta-feira, dia 11, onde anunciou que se ia afastar do movimento.O Jornal do Centro sabe que, contrariamente ao que foi divulgado, a concentração serviu para impedir que uma das secretárias administrativas da junta de freguesia entrasse no seu local de trabalho. A funcionária viu-se “obrigada a refugiar-se” no posto da Guarda Nacional Republicana (GNR), que se situa ao lado do edifício da junta, com “medo” que a população “passasse das palavras aos actos” - manifestou a funcionária. No entender da funcionária a reacção deve-se ao facto de ter assinado na outra lista que apareceu.O mesmo posto que abrigou a jornalista que, ao tentar tirar uma fotografia, na via pública, ao edifício da junta, se viu reunida de manifestantes que a impediram de realizar o seu trabalho. “Não dêem espectáculo que ela está a apontar tudo”. “A gente não quer, não tira fotografias. Quem manda somos nós”. “Estamos irritados e mais nada”. “Se sair alguma fotografia ponho-lhe um processo em cima e ao jornal”. “Vá-se embora para a sua terra, não tem nada que estar aqui”. “Vá pedir informações a quem a mandou cá, ao José Correia (presidente da Câmara de Nelas)” – proliferaram as vozes femininas. “A vaca está a escrever”. “Se aqui tivesse um tomate podre, atirava-te com ele” – ouvia-se em tom masculino. O mesmo posto onde se dirigiu uma senhora para, à frente dos agentes da GNR, gritar: “A senhora [jornalista] está a provocar o povo e está sujeita a gente exaltar-se. Ainda vai corrida. Daqui a pouco leva para aqui uma tareia”.Este episódio vem no seguimento de um primeiro que decorreu na segunda-feira, dia 8 de Agosto. A mesma funcionária foi, alegadamente, agredida verbalmente e ameaçada à porta do local de trabalho, tendo de seguida apresentado queixa na GNR. “Anda lá que não perdes pela demora, sua vaca de merda. Anda lá que ainda hás-de ser corrida daqui, sua vaca” - recorda a ofendida. Segundo a trabalhadora, as palavras foram proferidas por Álvaro Couto, um dos elementos do MRCCS, depois de ter assinado pela lista de Aires dos Santos, que vai concorrer à Junta de Canas nas próximas autárquicas. Álvaro Couto desmentiu o sucedido, na quarta-feira, dia 10, dia em que o Jornal do Centro tomou conhecimento e o confrontou com as acusações. “Não reconheço nas funcionárias determinados tipos de problemas de saúde, mas não deve estar boa da cabeça. Essa senhora está a inventar. Penso que quem inventou isso tem propósitos políticos” – manifestou Álvaro Couto.O presidente da junta, Luís Pinheiro, disse ao Jornal do Centro que “o povo deu as respostas que entendeu que devia dar” e acrescentou que “se soubesse na altura do sucedido teria agido”. “Ontem [terça-feira, dia 16] eu estava lá e elas entraram para trabalhar”.
... e assinaturas da lista opositora queimadas
No último dia, 16 de Agosto, para a entrega das listas candidatas para as eleições autárquicas, em Outubro, no tribunal, um dos elementos da lista encabeçada por Aires dos Santos - lista alternativa que apareceu recentemente na freguesia de Canas de Senhorim - foi alegadamente agredido física e verbalmente por elementos do Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim (MRCCS).O elemento da lista dirigiu-se à sede da junta “para levantar o documento que faltava e era necessário para a entrega da lista no Tribunal de Nelas” - segundo uma fonte do Jornal do Centro. Ao sair do edifício, foi alegadamente “espancado pelos manifestantes que se encontravam à porta da junta”. “Bateram-lhe, trataram-no mal verbalmente, insultaram-no, e fizeram desaparecer os documentos que tinha acabado de levantar na junta de freguesia” - continua a mesma fonte.O agredido voltou a entrar no edifício da junta, para chamar a GNR, que fica a escassos metros, chamada que efectuou de um telemóvel. A GNR não apareceu e o canense saiu, novamente, para se dirigir ao posto e apresentar queixa, tendo sido, alegadamente agredido, de novo, rasgando-lhe a camisa.O presidente da junta, Luís Pinheiro relata que se limitou a fazer o que tinha que fazer: “Assinei as declarações à pessoa e ele assinou em como lhas entreguei. O que se passou cá fora não sei”. Luís Pinheiro acrescenta que “pouco tempo depois ele voltou a entrar pela junta, aos berros e a pedir para chamarem a GNR”. “Quem queria chamar a GNR era ele, portanto, disse-lhe para ele pegar no telemóvel e chamar. E ele chamou. Eu não tenho que chamar a GNR, ele que a chamasse. Não tenho nada a ver com isso” - remata.Luís Pinheiro no comício realizado na quinta-feira, dia 11, avisou que ia abandonar a liderança do movimento e não se ia candidatar à junta.“Desde o dia 11 que não estou à frente do movimento, não tenho que responder por ele. Continuo na luta, mas não lidero o MRCCS. Não sou líder de um movimento que luta por um concelho onde há pessoas a criarem instabilidade e a dividir Canas. A luta pelo concelho não acaba, só o povo pode acabar com a luta, não sou eu. E o que é que é mais democrático que o povo? Esta lista aparece não com o intuito de construir, mas sim para afastar as pessoas. Não são os votos que me assustam, porque em democracia é o povo que mais ordena” - avisa Luís Pinheiro. O autarca, no mesmo discurso, adianta que já não vai ser candidato, mas a lista que encabeçava deu entrada no tribunal. “Não sou candidato. Foram ao tribunal entregar a lista, mas, neste momento, é contra a minha vontade. É claro que se quisesse eu tirava o meu nome, mas ainda estou a tempo de o fazer, mas em democracia é o povo quem mais ordena” - remata.A lista do qual Aires dos Santos é cabeça-de-lista não entregou na data limite a lista, no Tribunal de Nelas, mas segundo fonte do Jornal do Centro “está-se a tentar fazer tudo por tudo” para que os documentos ainda sejam apresentados.