Águas radioactivas

In Correio da Manhã de 27-09-2005

No estudo feito pela antiga JEN (Junta de Energia Nuclear), por iniciativa da DECO, verificou-se que os valores alfa total eram superiores ao limite fixado por lei em sete amostras de redes públicas – Areosa (no concelho de Viana do Castelo), Roussas (Melgaço), Seixo Amarelo (Guarda), Porto, Vila Nova de Tazem (Gouveia), Penedono e Couto do Mosteiro (Santa Comba Dão) – e em duas marcas de água engarrafada, Pedras Salgadas e Vidago.

Interpelado sobre o alerta, o médico Artur Osório, director do Instituto Português de Oncologia (IPO), no Porto, observou ao CM que “Os efeitos da radioactividade da água só se fazem sentir, de acordo com os estudos médicos, ao fim de prolongados períodos de consumo e há tendência para a água ir baixando os níveis de emissão. Os tipos de cancro que provoca são na medula, no pulmão e leucemia.”
Artur Osório considera também importante uma análise mais detalhada sobre os elementos químicos que provocam a radioactividade, até porque há casos como o iodo que têm uma função muito positiva na saúde, pois é o grande estimulador da tiróide, uma glândula muito importante para o crescimento e reguladora de vários sistemas do organismo humano.
A iniciativa da Deco remonta aos passados meses de Fevereiro e Março, ainda antes do Governo aprovar em Conselho de Ministros de 30 de Junho deste ano a passagem para a lei portuguesa de novas directivas europeias e entregar ao Instituto Tecnológico e Nuclear a monitorização ambiental do graus de radioactividade na atmosfera, nas águas e no colo, bem como a responsabilidade de “proceder às avaliações radiológicas de riscos para a saúde dos trabalhadores e das populações”.

URÂNIO AMEAÇA SAÚDE EM VISEU

O complexo mineiro da Urgeiriça apresenta efeitos nefastos para a população de Canas de Senhorim resultantes da exposição ao urânio. Um estudo encomendado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge concluiu em Julho que esta população, que vive apenas a dois quilómetros de um escombreira com cerca de 2,5 toneladas de resíduos, apresenta uma diminuição de várias das funções orgânicas. O estudo conclui que essa diminuição se refere de forma mais clara à função tirodeia (função reprodutiva e séries sanguíneas), no caso dos homens, e à função renal nas mulheres (sugere-se ainda que nelas também possa ocorrer problemas ao nível reprodutivo).
Conclui o referido estudo, que a rede água de Canas de Senhorim está em conformidade com a legislação no que se refere aos parâmetros radiológicos. Existem áreas afectas às minas e à disposição de escombros nos quais as doses de radiação excede o limite Europeu.

IRAR NÃO OBRIGA AO CONTROLO
A Deco refere no seu estudo que os distribuidores da rede pública de água estão desde 1998 obrigados a controlar os indicadores de radioactividade e que essa responsabilidade foi reforçada em 2001 com a transposição de uma directiva europeia sobre a água para consumo humano.
Porém, segundo constatou junto da instância competente, o Instituto Regulador de Águas e Resíduos (IRAR), a maioria dos distribuidores nunca incluiu parâmetros radioactivos na monitorização da qualidade da água. O resultado é que o IRAR não tem respostas para dar ao consumidor sobre a matéria. A Deco considera que o IRAR e o Instituto da Água devem fazer um estudo radiológico exaustivo a todas as águas destinadas ao consumo humano.